Exposição revela documentos inéditos sobre alemães no Estado durante a 2ª Guerra Mundial

09/08/2018 13:52

Um dos documentos da exposição. Foto: divulgação

O projeto “História Repatriada”, parceria entre o Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental (Labimha) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Instituto Carl Hoepcke, revela documentos inéditos sobre alemães em Santa Catarina durante a 2° Guerra Mundial. São cerca de 5 mil documentos não catalogados encontrados na Espanha e que, agora, chegam a Florianópolis por meio de uma exposição que iniciou dia 8 de agosto e segue até 8 de setembro na Biblioteca Pública de Santa Catarina, na capital.

“A importância desse material está no ineditismo e porque irá lançar luzes sobre a triangulação Espanha-Brasil-Alemanha entre 1942-45”, afirma João Klug, professor do Departamento de História da UFSC, vinculado ao Labimha e um dos coordenadores do projeto. Com pós-doutorado pela Freie Universität de Berlim, há 26 anos Klug se dedica à temática relativa à imigração alemã no Brasil e diz que nunca havia encontrado documentos de tal relevância. “Os papéis trazem indícios que apontam para um novo cenário que pode, a partir de pesquisas futuras mais detalhadas, mudar a historiografia local e mesmo internacional da época”, diz Manoel Teixeira dos Santos, professor de História do Colégio de Aplicação da UFSC, doutor e pesquisador na área de imigração, também vinculado ao Labimha e responsável pela análise e seleção do conteúdo.

Os cerca de 5 mil documentos reúnem diários, cartas, solicitações, documentos financeiros e correspondências oficiais da Embaixada, Consulado (Porto Alegre) e Vice-consulados (em Florianópolis e São Francisco do Sul) da Espanha entre 1942 e 1945. Uma das mais importantes revelações até agora é a atenção e o cuidado que os espanhóis dispensavam aos alemães no Brasil: vistos como inimigos em solo brasileiro em razão da guerra, uma parcela desses alemães foi encaminhada a centros de internação e recebeu a visita pessoal do vice-cônsul espanhol, para saber como estava sendo tratada e do que necessitava.

Klug e Teixeira pontuam que informações como essa, reveladas a partir de uma análise preliminar dos registros, colocam um ponto de interrogação na até então conhecida neutralidade dos espanhóis durante a 2ª Guerra. “O que tínhamos como certo – uma aproximação discreta entre Espanha e Alemanha no período em questão – pode ganhar um sentido diferente a partir da inclusão do Brasil neste contexto, por meio da documentação encontrada”, argumenta Teixeira. “Outro forte indício disso é a decisão do General Franco (1892-1975), chefe do Estado Maior da Espanha, de manter esse material guardado, mas não catalogado, escondendo, assim, o teor”, completa Klug. E ambos são categóricos em afirmar que todo esse cenário abre um campo enorme de investigação científica e acadêmica a partir de agora.

O evento também conta com apoio da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) de São Leopoldo (RS) e do Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), de Madri, na Espanha. No dia 10 de setembro a exposição será transferida para o instituto Carl Hoepcke, no centro de Florianópolis.

Pesquisas e consultas

Após o cuidadoso e apurado processamento técnico, os arquivos estarão disponíveis para consultas públicas presenciais no Instituto Carl Hoepcke. “Para nós, é uma grande oportunidade e honra trabalhar com instituições de ensino e pesquisa como essas que estão envolvidas nessa proposta, que também vai ao encontro ao que promovemos aqui”, afirma Annita Hoepcke da Silva, presidente do ICH, dedicado à pesquisa e preservação da história da imigração alemã.

“Esse material, com toda certeza, agrega muito valor ao acervo de nosso centro de memória, que se divide em três grandes grupos documentais principais: a história dos 190 anos de imigração alemã em Santa Catarina, o fundo documental do ex-governador Aderbal Ramos da Silva e parte relevante da história industrial e comercial da cidade, por meio da trajetória de Carl Hoepcke”, diz o superintende do ICH, Max Müller.

Serviço

O quê: Exposição “História Repatriada”

Data: até 8 de setembro

Horário: segunda a sexta-feira, das 8 às 19 horas; sábado, das 8 às 11h45

Local: Biblioteca Pública de Santa Catarina (Florianópolis)